OLHAI AS RAPOSINHAS

A Paz do Senhor, irmãos

Hoje, até pela minha falta de tempo de escrever alguma coisa, inclusive pelo fato de ter sabido em cima da hora que hoje era meu dia de fazer uma postagem (rs), quero compartilhar uma peça de teatro que escrevi há algum tempo. A base está em Cantares 2.15, quando Salomão exorta sobre o mal que raposas e raposinhas fazem às vinhas. 

Entendendo "vinhas" como a igreja de Cristo e "raposas" como toda espécie de erva daninha lançada pelo inimigo no intuito de prejudicar o Jardim de Deus, segue o texto abaixo, devendo cada de um de nós, a partir do que julgarmos bíblicamente válido e sadio, tirarmos nossas próprias conclusões:

De antemão, desejo-vos, No mais sublime Agape, uma boa leitura e meditação. 




*    *    *

(Luzes se apagam. Andando vagarosamente e na ponta dos pés, procurando não fazer barulho, sete raposinhas e uma raposa - mãe adentram no recinto, sempre juntas, olhando cautelosas)
 
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
                                   Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim.
Contenda (Falando alto): Hei, não pise no meu pé. Olhe por anda. Quer me aleijar?
Legalidade: Não grita comigo que eu te dou uma dentada na fuça aqui mesmo.
Liberal: Uhu. Briga! Briga! Eu aposto na Contenda!
Raposa Mãe: Vamos parar com essa gritaria! Vocês ficaram loucas? Eu já não disse que não podem fazer barulho? Se eles percebem que vocês estão entrando no jardim, eles vão expulsar vocês.  Têm que entrar em silêncio.
Contenda: Essa desastrada pisou no meu pé.
Raposa Mãe: Não interessa. Isso não é hora e nem lugar para discussão. Vocês têm que entrar logo.
Superior: Você não vai com a gente, mamãe?
Raposa Mãe: Não, minha filha, olhe o meu tamanho. Eles vão me perceber. Vão vocês que ainda são raposinhas e chamam menos atenção. Devorem o jardim aos poucos e não deixem eles perceber. Se alguém vir vocês lá, é só fingir que são pobres gatinhas com fome que eles vão achar vocês uma gracinha e não vão expulsar de lá. Agora, se eu for, vou sair de lá na base da marretada! Eu já fui expulsa daí uma vez e fiquei com tanto ódio deles. É por isso que eu estou sempre espiando para poder entrar de novo e acabar com tudo. E dessa vez eu trouxe mais sete comigo.            
Liberal: Tá tudo liberado. Eu andei espiando. Eles estão dormindo.
Raposa Mãe: Então entrem com calma. Eu vou ficar aqui fora na moita. Primeiro sinal de perigo, se escondam. Por mil galinhas caipiras, que ninguém estrague o nosso plano! Vão com cuidado, raposinhas da mamãe!
Legalidade: Vamos aproveitar para devastar tudo, antes que acordem. Eu estou morrendo de vontade de comer muita fruta e muita flor.
Superior: Não seja insana. Se a gente acaba com tudo numa noite só, amanhã eles percebem o estrago e vão saber que a gente está aqui. Vamos comer aos poucos. Na verdade se formos espertas, eles mesmos vão acabar nos alimentando.
Partidária: Concordo com a Superior. Se a gente estragar tudo de vez, pode ser fatal pra nós. Aí podem querer expulsar a gente violentamente. O ideal é acabar com tudo sempre à noite, em silêncio.
Heresia:  Eu ainda acho que eles sabem que nós estamos aqui. Apenas querem evitar a dor de cabeça de ter que tirar a gente à força. Eles já nos aceitaram como raposinhas de estimação.
Material: Bom pra gente, pior pra eles. Quando se derem conta, nós já teremos crescido e devorado tudo. Aí não vai ter jeito. Ninguém vai conseguir tirar a gente daqui. A menos que resolvam se unir contra nós e comecem com jejum e oração.
Contenda: Mas eles não podem parar de continuar plantando árvores. Se não a gente vai acabar ficando sem alimentos e nós não queremos isso. É bom que eles pensem que a devastação do jardim está acontecendo normalmente, como se fosse por causa do clima.
Legalidade: Durante a noite eles dormem e não fica nenhum guarda no jardim. Aí ficamos livres pra fazer o que quisermos. Só temos que tomar cuidado pra não sair durante o dia, quando todas as luzes estão acesas, porque aí nossa presença pode causar estranhezas.
Liberal: As vinhas estão floridas. Só de olhar me dá água na boca. As parreiras já fazem ótimas sombras. Eu nunca mais quero sair daqui.
Superior: Devemos fazer uma escala de segurança para que não sejamos pegas de surpresa. Sugiro que enquanto algumas de nós estejam roubando frutos, as outras mantenham uma posição de guarda à porta do jardim para que, se eles tentarem espiar alguma coisa, não nos surpreendam.
Partidária: Concordo com a Superior. Devemos ter muita cautela se quisermos ficar aqui por muito tempo. Eu soube de outros jardins em que muitas raposinhas iguais a nós foram escorraçadas como pragas.
Heresia: A nossa sorte é que nesse caso esses jardineiros vivem dormindo. Estão preocupados com tantas outras coisas e nem perceberam a gente aqui. Que tolos! E olha que ás vezes nós temos sido tão desastradas. Eles realmente são uns cegos!
Material: Por isso mesmo não podemos perder tempo. Do jeito que eles são instáveis, podem acordar a qualquer momento e resolver eliminar a gente do jardim pra sempre. Então eu penso que temos que bolar uma estratégia de guerra e sermos ligeiras. Se a gente sair da mamata que é esse jardim, vai ser difícil encontrar outro. Então vamos ficar aqui agindo por debaixo das moitas, mas também ser rápidas. Temos que dividir as tarefas. Cada uma já sabe o que tem que fazer? 
Contenda: Eu já sei a minha tarefa aqui e tenho executado muito bem. Entrei aqui bem de mansinho. Cheguei como não querendo nada e acabei ficando. Meu nome é Contenda. Eu sempre entro aos poucos. Muitas vezes numa rodinha de melhores amigos, amigos íntimos. Eles não percebem que enquanto vão dando ouvidos a tantas picuinhas em nome do brio, do orgulho ferido, então eu planto uma raiz de amargura entre as flores do jardim. Eles acabam se dividindo e começam a pensar no próprio umbigo ao invés de cuidar do jardim. Eu tiro a atenção deles quando espalho a semente da divisão. É muito fácil eles ficarem dispersos e serem fracos quando estão divididos. Não há jardim que fique conservado com tanta erva daninha assim. Eu sou ou não a raposinha mais poderosa?
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim. 
Legalidade: Você é poderosa somente até ouvir o que eu tenho pra falar de mim: Meu nome é Legalidade. Eu também estou há muito tempo no jardim. Também gosto de desviar a atenção dos jardineiros quando coloco neles o exagero pelo legalismo. Eles ficam tão obcecados em fazer as coisas certas que se esquecem da importância de cuidar das flores que estão quase murchando. Eles dão muito valor à letra e a tradição. Mais até do que à prática. Eu pareço muito inofensiva e até conservadora, vocês não acham? Então eu não represento nenhum perigo pra ninguém. O que eles não sabem é que quando eu quero, eu sou tão maléfica. Principalmente se é para separar, eliminar, excluir. Em nome da legalidade exagerada eles aceitam até matar com as próprias mãos aquelas flores que precisam de mais água e cuidado. Alguém aí duvida que eu seja uma raposinha poderosíssima?
Liberal: Pois diante da minha capacidade vocês ainda são muito fraquinhas. Meu nome é Liberal. Mas tenho outros apelidos como Mundanismo, Modernidade. Ah, alguns gostam de me chamar de “não tem problema”, de “um pouquinho não faz mal”. E eu atendo também pelo nome de “isso era coisa do passado, os tempos mudaram”. E acho o máximo quando me chamam de “a graça cobre essas coisas”. Enfim, eu tenho mil nomes. Mas na essência não mudo jamais. Quase todo mundo me aceita no jardim e até sabem que eu estou aqui porque acham normal que tenha uma raposinha chamada Liberal em todo jardim. Afinal, estamos em outros tempos. Eu destruo qualquer jardim por onde passo porque eu gosto muito de plantar outras árvores daninhas no meio de árvores boas. Joio no meio do trigo. Aqui uma vida dupla sem compromisso com a ética será aceita como algo normal e até necessária à convivência social. Uma vida sexual ativa pode ser considerada um sintoma extremamente normal nos tempos pós-modernos. A televisão está aí pra me ajudar com minha campanha em favor da traição, do desrespeito aos pais, da adoração a qualquer coisa diferente do verdadeiro Deus. Ah, amigas, eu sou uma raposinha que já virou bichinho de estimação preferido em muitos jardins. Olhem pra mim, eu não sou quase um ursinho de pelúcia? Confessem, queridas: eu sou a mais poderosa de nós sete!
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim. 
Superior: Mas a Superior ainda sou eu. Superioridade! Essa é minha especialidade. Quer alguma coisa mais eficaz para acabar com o jardim que é quando uma flor acha que pode sufocar a outra? Eu planto muitas carnívoras nos jardins por onde passo. Também gosto muito de alargar os galhos das árvores a fim de que as maiores queiram fazer mais sombra e abortem o espaço das menores. Todo mundo tem desejo de ser grande. Ninguém aceita ser inferior a ninguém. Todos querem crescer mais e ser a flor mais perfumada e mais bela. Eu só dou o que eles querem. Todo mundo quer poder, quer status. Todo mundo quer estar no palco com um orgulho que tem sabor de mel e ver os outros na platéia os honrando como subalternos. Bom, é claro que eu sou a raposinha mais poderosa!
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim. 
Partidária: Mas a minha receita para destruir jardins é imbatível. Anotem aí: dê um pouco de poder a uns, e não dê a outros. Coloque um pouco de brilho em um e não coloque em outro. Divida a preferência de cada um por coisas distintas e estará formada a arena política. Vamos criar partidos. Existe alguma coisa mais eficaz para destruir a uniformidade do que as facções? Se eles conseguirem demarcar o terreno e impedir o avanço de outros, então não haverá jardim que suporte. É bom que ninguém torça por ninguém. Que o néctar de um não sirva de bálsamo a outro quando o sol castigar as mais frágeis. Está aberta a campanha política para separar uns e outros. Quem é de Paulo que fique à esquerda, quem é de Apolo à direita. E quem não for igual que seja banido! Ah eu sou uma raposinha maravilhosa!!!
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim. 
Heresia: Humm. Que tal fazê-los acreditar em verdades que não são tão verdades assim? Deixe-me explicar: Já ouviram falar na palavra “heresia”? Pois é, meu trabalho é esse. Só existe uma maneira de uma mentira ser perpetuada: é fazê-la com que seja aceita como se fosse verdade. Exemplo: se eles passarem a acreditar que as flores murcham simplesmente pelo tempo de vida que elas têm e não por causa da força de agentes malignos, ninguém vai ter coragem de contestar isso. A heresia causa muita confusão entre eles. E muitas flores simplesmente morrem. Muitas árvores criam cupins na sua raiz que vão subindo pra o caule até deflorar toda a copa. E viram folhas sem fruto algum. Para nada mais prestam se não para serem lançadas no fogo. A heresia é o melhor remédio contra o crescimento de um jardim frutífero! Concluindo, classe: eu sou a mais eficaz das raposinhas!
Todas (Cantando):   Nós somos raposinhas, bonitinhas, mesmo assim.
Se você não vigiar vamos entrar no seu jardim. 
Material: Agora só falta eu falar. A melhor, como sempre, fica por último. Arrumei um jeito muito esperto de ficar o tempo que quisermos no jardim sem sermos percebidas. A gente tem que fazer com que eles acreditem que existem coisas mais importantes do que se preocupar com a situação do jardim. Materialistas, isso é o que eles têm que ser! Se conseguirmos manter o foco deles em coisas mais fúteis, eles se esquecerão da importância de procurar parasitas no jardim. E então, deslumbrados por coisas supérfluas, quando eles perceberem o materialismo vai tê-los feito dormir, enquanto o lindo jardim vai aos poucos sendo dizimado por nossa fome de flores e frutas. Confessem todas vocês que minha idéia não poderia ter sido mais inteligente. 
Superior: Ah, vamos deixar de confusão. Vocês se esqueceram que estamos todas no mesmo propósito, que é qual mesmo?
Todas: DEVORAAAAR!
Superior: Pois então lembrem-se do que a mamãe disse. Se a gente ficar brigando entre nós, estaremos fazendo igual a eles, que não conseguem se unir pra nada e sempre acabam em confusão. Sejamos prudentes e vamos cada uma fazer o nosso trabalho, mas em sintonia uma com a outra. Se uma de nós ouvir algum barulho de passos no jardim, então deve dar um sinal de perigo para que todas juntas possamos nos esconder. Sejamos espertas. Se eles descobrem uma de nós, então poderá logo deduzir que existem outras, porque onde comem uma, comem sete. Aí vão querer começar a temporada de caça às bruxas, digo, caça às raposas. E vamos acabar amarradas umas nas outras soltando fogo pelas ventas. Têm alguns deles que são espertos. Quando começam com esse negócio de procura ás dracmas perdidas, não sossegam enquanto não limpam tudo.
Partidária: Idéia brilhante, minha Superior. Devemos começar a agir assim essa noite mesmo. Que tal batizarmos essa nova tática de “operação gafanhoto”? Acho a idéia brilhante.
Heresia: Iupi!!! Estou faminta e não vejo a hora de atacar. Enquanto ninguém liga pra nada o jardim é todo nosso.
Contenda: Ainda temo que sejamos descobertas. Eu andei ouvindo sobre um poderoso antídoto que acaba com pragas e elimina qualquer predador desavisado. É muito perigoso.
Legalidade: Do que você está falando, estraga-prazeres? Que antídoto é esse?
Contenda: Dizem que há um remédio feito à base de um coquetel: “Oração e Jejum”. E outro ainda pior chamado “União”. São vacinas fulminantes. Apenas uma gota dessas e o efeito sobre nós é destruidor. Mesmo que estejamos escondidas atrás de qualquer moita, essas coisas nos acham onde estivermos e nos eliminam sem dó.
Liberal: Que coisa horrível. Então temos que torcer pra que eles nunca encontrem esses tais “Jejum, Oração e União”, porque isso seria mortal para nós.
Superior: Vamos sair logo daqui e se esconder. A noite já está chegando. Há sempre alguns deles que gostam de espiar se está tudo bem.
Partidária: Esperem. Vocês estão sentindo esse cheio horrível?
Material: Eu estou. Isso está me dando náuseas. Que cheiro é esse?
Contenda: É cheio de oração. Alguém está injetando esse veneno contra nós. Alguém percebeu que a gente está no jardim.
Superior: Eu falei pra vocês não fazerem barulho. Viu só? Alguém percebeu a gente. Vamos correr logo daqui pra ouro jardim porque esse cheiro de oração vai matar a gente. Vamos fugir todas. Fujamos raposinhas!
Heresia: E tem cheiro de jejum junto. Eu odeio esse cheiro! Não há raposa que suporte a oração e o jejum. Socorro, vamos!!!

(As sete fogem desesperadas)

(E que cada um tire ou faça sua própria "moral da história")

Por: Gilson Hdorff

Comentários

  1. A Paz do Senhor,

    Muito boa essa peça. Realmente, devemos ser cautelosos, pois o mundo tenta de todas as maneiras corromper nossa comunhão com Deus e os irmãos. Que sejamos fortes, jejuando e orando, tenho uma comunhão plena com Dues e nosso irmãos.

    Que nosso Senhor os abençoe.
    Anderson Dias Pereira Fonseca.

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