A CRUZ DE JESUS CRISTO
Por Paul Washer
À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Marcos 15.34)
Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra. (Lucas 22.41-44).
Diante de nós está o capítulo mais importante deste livro, ou, como a maioria dos cristãos concordariam, o capítulo mais importante na história da humanidade. Este tema não pode ser quebrado em porções menores, mesmo que seja para a conveniência do leitor. Este é o coração do evangelho, e se devemos labutar através dele, esse é, de fato, um labor digno!
Uma dos grandes males da pregação evangelística contemporânea é que ela raramente explica a cruz de Cristo. Não é suficiente dizer que ele morreu – todos morrem. Não é suficiente dizer que ele morreu uma morte nobre – mártires fazem o mesmo. Devemos entender que não teremos proclamado completamente a morte de Cristo com poder salvador até que tenhamos limpado as confusões que a cercam e exposto seu verdadeiro significado para os nossos leitores: Ele morreu carregando as transgressões de seu povo e sofreu a pena divina por seus pecados. Ele foi abandonado por Deus e esmagado sob a ira de Deus em nosso lugar.
Desamparado por Deus
Uma das passagens mais perturbadoras, até mesmo assombrosas, das Escrituras é o relato de Marcos do grande questionamento do Messias enquanto ele estava pendurado na cruz romana. Em alta voz, ele clamou “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”, que traduzido significa: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”[1]
À luz do que sabemos sobre a natureza impecável do Filho de Deus e o seu relacionamento perfeito com o Pai, as palavras do Messias são difíceis de compreender, porém elas carregam o sentido da cruz e a razão pela qual ele teve que morrer. O fato de suas palavras terem sido registradas no original em hebraico nos diz algo sobre a sua grande importância. O autor não queria que compreendêssemos mal sequer um detalhe!

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos. Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo.
Nos tempos de Cristo, a Escritura Hebraica não era numerada por capítulos e versículos como hoje. Portanto, quando um rabi buscava direcionar seus leitores para certo salmo ou certa porção da Escritura, ele o faria recitando as primeiras linhas daquele texto. Nesse clamor da cruz, Jesus nos direciona para o Salmo 22 e nos revela algo sobre o caráter e o propósito do seu sofrimento.
No primeiro e no segundo versículo, ouvimos o Messias lamentando: ele se considera desamparado por Deus. Marcos usa a palavra grega egkataleípo, que significa desamparado, abandonado ou desertado.[2] O salmista usa a palavra hebraica azab, que significa deixar ou desamparar.[3] Em ambos os casos, a intenção é clara. O próprio Messias está consciente que Deus o desamparou e se fez de surdo ao seu clamor. Esse desamparo não é simbólico ou poético. Ele é real! Se houve uma pessoa que já se sentiu o desamparo de Deus, esse foi o Filho de Deus na cruz do Calvário!
O quarto e o quinto versículo desse salmo, a angústia sofrida pelo Messias se torna mais aguda enquanto ele se lembra da fidelidade pactual de Deus para com seu povo. Ele declara: “Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos.” A contradição aparente é clara. Nunca houve um episódio na história do povo da aliança em que um justo clamou a Deus e não foi livrado. Contudo, agora, o Messias imaculado está pendurado sobre o madeiro totalmente desamparado. Qual poderia ser a razão do abandono de Deus? Por que ele voltou as suas costas para seu Filho unigênito?
Jesus tece a resposta para essas questões perturbadoras em seu lamento. No verso 3, Ele faz uma firme declaração dizendo que Deus é santo e, no verso 6, Ele admite o indizível: Ele se tornou um verme, não mais um homem. Por que Cristo falaria de si mesmo com tal linguagem degradante e depreciativa? Ele se via como um verme porque Ele se tornara “opróbrio dos homens e desprezado do povo” ou havia uma razão maior e mais terrível para a sua autodepreciação?[4] Afinal, Ele não clamou “Meu Deus, Meu Deus, por que as pessoas me desampararam?”, mas buscou saber por que Deus o havia feito. A resposta pode ser encontrada nesta amarga verdade: Deus fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos, e, como um verme, Ele foi desamparado e moído em nosso lugar.[5]
[1] Marcos 15.34
[2] Marcos 15.34
[3] Salmo 22.1
[4] Salmo 22.6
[5] Isaías 53.5-6
Fonte: Extraído do livro 20º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer - Editora Fiel
Via : Voltemos ao Evangelho
Por: Lilian Alexandre
A Paz do Senhor,
ResponderExcluirEstudo realmente interessante, colocando uma luz neste texto tão importante para a humanidade. Que valorizemos esse sacríficio maravilhoso...
Que Deus abençoe a todos.
Anderson Dias