A CABEÇA DO JOÃO

João era aquele pregador que desde o início do seu ministério sempre enfrentou polêmicas, tanto por conta de sua exótica indumentária, como principalmente pela sua prédica, sempre inexorável para com aqueles que pulavam a cerca dos limites estabelecidos na lei mosaica. Publicanos, fariseus, saduceus e tudo quanto era transgressor era alvo constante do seu sermão. E esse zelo fervoroso do eremita não perdoava nem os mais poderosos: até Herodias, a mulher do soberano, andou sendo criticada por sua pulada de cerca.  E quem pensa que depois de ouvir a verdade a rainha procurou a igreja mais perto de casa pra pedir perdão na hora do apelo, se engana! A acusaçao ficou entalada na garganta e um ódio e desejo de vingança tirou-lhe até a vontade de comprar sapatos (o que é quase impossível para mulheres!)
 
Dias depois, numa das pomposas festas no palácio, Herodes convidou Salomé, a garotinha, filha de Herodias, para fazer um número de dança exclusivo para ele. Cachaça vai, cachaça vem, no calor do "coco chapado", ecantadíssimo com a performance da menina, o rei fez aquelas promessas que todo bêbado faz :"Menina, que dança magnífica! Pede o que você quiser que eu te dou até metade do reino".
 
Salomé perdeu o compasso! A infante ficou perplexa e correu pra ver o que a mamãe pensava disso. Entrou eufórica no quarto da majestosa e foi logo contando a nova: "O rei vai me dar metade do reino, mamãe! Metade do reino. Yuppp!"
 
Na hora o coração gelado da bruaca perversa sambou no peito. Era a deixa: "Metade do reino, coisa nenhuma! Pra que nos vai servir metade do reino? Tem valor nenhum, menina. Você vai pedir a cabeça de João Batista".
 
Salomé deve ter entrado em parafuso. "Como? Onde? Cabeça de quem? O que eu vou fazer com uma cabeça? É metade do reino, mamãe! Alôo!"

Mas o ódio da mulher falou mais alto. Nao queria saber de riquezas, não queria saber de prosperidade nenhuma. Só uma coisa lhe interessava: vingança. 

 
E foi assim que Salomé disse não à metade do Reino e perferiu a cabeça de Joao Batista que, até hoje nem sabemos pra que lhe serviu, exceto apaziguar o ódio da mãe.

Moral da história: Deus, o Rei, tem tudo para nos dar, até metade do Reino, mas às vezes nossa ligação com o passado, ressentimentos, mágoas, ódio, vingança e outros sentimentos aprendidos na escola de Herodias, nos torna bitolados, desfocados, sem visão de futuro, mais preocupados em nos vingar dos outros que nos feriram do que em deixar tudo para trás e viver as coisas que Deus faz novas. E não é que preferimos a cabeça do João ao invés de metade do Reino!

No mais sublime Ágape,

Gilson Hermsdorff

 

 

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