TUDO VIROU FAGULHA

"Em uma fração de segundos que nao consigo mensurar com precisão, fui transportado a uma esfera quase surreal, superior, acima do espaço sideral. Fascinado pela repentina leveza que num momento fez sumir toneladas de fardos, cansaço e tristezas, fui envolvido pelo alarido de um horda com vestes alvíssimas, que em coro uníssono entoava uma canção que o mais inspirado dos poetas não poderia desenhar.






A multidão que estava comigo transcendia a quantidade de estrelas de Vega e Ursa Maior. Eram tantos como a areia da praia! E meus olhos mal podiam permanecer abertos diante de tanta alvura. Nao havia uma só nódoa em toda extensão pra onde eu olhava. Sentia uma alegria que em situaçao normal me faria chorar, exceto pelo detalhe de que lá nao eu nao tinha mais lágrimas. Todos os que lá estavam eram impecavelmente semelhantes. Nao havia menor ou maior formosura. Nao havia diferenças. E algo me dizia que nem sempre fora assim. Que muitos daqueles bem aventurados foram içados da fornalha da aflição, de uma vida de carestia, do vale do sofrimento, das angústias mais inflamadas da vida, para aquele estado presente por ousarem perseverar crendo na promessa que diz: "o que vencer será vestido de vestes brancas".

De repente percebi o que era aquilo tudo: "O futuro,enfim, chegou". O grito de Maranata de multidões ao longo dos séculos, foi, por fim, atendido, e a partir de então, descortinou-se uma nova esfera, cantada e aspirada por heróis da fé que sonharam com uma herança maior, incorruptível, uma cidade nos céus. E foi então que me dei conta que de repente tudo que eu vivi até ali, num piscar de olhos virou fagulha:

- Virou fagulha o sistema vigente no mundo pós moderno, onde os injustos são premiados e os culpados, cheios de obstinação, são inocentados, em detrimento da meritocracia e vitupério dos justos.





- Virou fagulha o sistema ditatorial que confunde essência com aparência. Que define o "marketing político" como indispensável aos bons relacionamentos, alicerçados em interesses mútuos e predatórios. Que enaltece o "ter" como mais importante que o "ser". Que promove o slogan "sou mentiroso, mas tenho carro" e que sufoca a mensagem "negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me".

- Virou fagulha o poder aparentemente indestrutível das instituições religiosas, lideradas por ícones mais amantes de si mesmos que de Deus. Que advogam para si o senhorio da Igreja como sendo procuradores de Deus com uma unção irrevogável, instransferível e vitalícia, e em nome disso, loteiam cargos no céu, colocam catracas na porta das igrejas, subjulgam os liderados com cabresto eleitoreiro e hedonista, tratam a Noiva do Cordeiro como se com o próprio sangue a tivesse comprado, ligam e desligam almas ao bel prazer e pregam um evangelho que fala de tudo, menos do amor Salvador e desinteressado do Cristo da Cruz.

- Virou fagulha os sistemas governamentais que favorecem a poucos e que oneram a milhares, com a apoteose da corrupção e o desrespeito à democracia. Que ignoram a urgência das políticas públicas e bajulam adeptos com a arte do escambo, doação de caixões, cargos de confiança, pagamento de propinas, cestas báscias, bancos de igreja, etc.

- Virou fagulha o desrespeito dos magnatas que escravizam os pobres em troca de um prato de comida, que levantam a bandeira da sustentabilidade e do respeito aos direitos humanos, mas que compactua com a ditadura chinesa. Que fazem discursos em prol de uma família sob Deus, mas desfilam em carros importados e aviões particulares, sob o olhar faminto e morimbundo das crianças da Africa.

- Virou fagulha a futilidade da indústria da fama, que fabrica e enaltece ídolos futebolísticos e novelescos - adorados por multidões incautas e alienadas - que de tão cheios que são de si mesmos, não têm espaço para um simples lampejo da presença de Deus.

Ufa, finalmente tudo virou fagulha!

E foi em êxtase, com um coração alado, que de repente acordei do sonho dourado, frustrado pela ação cruel dos meus olhos que se abriram para a realidade desconcertante: o futuro ainda não chegou!

Então, busquei inúmeros motivos para uma colossal frustração pela realidade ainda em voga e quis exilar-me, como uma anacoreta medieval, ou como o nostálgico poeta que anseia pela terra com palmeiras onde canta o sabiá.

Mas foi num lampejo de lucidez que me lembrei do que um dia os anjos disseram aos hebreus: "Este mesmo Jesus voltará". E foi automática a associação com outras declarações: "Eis que venho sem demora", "Este mesmo senhor descerá do céu com alarido.."

E então minha esperança se renovou. Percebi que qualquer dia desses vou sonhar para nunca mais acordar. Qualquer dia desses, o que há de vir virá, nao tardará e finalmente tudo vai virar fagulha. Maranata!"

No mais sublime Agape,

Gilson Hermsdorff

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